Meningite sob controle em Campinas

Informe da Promed-mail (de 18/08/2000).
Artigo de minha autoria originalmente publicado no Correio Popular em 20 de setembro de 1996, com o título "Meningite sob controle".
 

Pelo seu potencial epidêmico e letalidade agregada a meningite e meningococcemia preocupam profissionais de saúde e população em geral, sendo mesmo objeto de pânico quando se noticiam surtos e óbitos, ou se rememora a grande epidemia ocorrida em São Paulo na década de 70.

Tivemos um bom resultado da vacinação em massa contra o meningococo C em Campinas neste ano porque "zeramos" a ocorrência da doença causada por este sorogrupo na faixa etária alvo neste período crítico do outono/inverno, quando se esperava seu aumento, tendo sido protegidas também as pessoas vacinadas com o imunobiológico causador das inesperadas reações.

A indicação de vacinação ocorreu depois de anos de acompanhamento do perfil da doença: de 1988 ao dias atuais consolidamos e estamos conseguindo manter um bom sistema de monitoramento em nosso meio, por mérito dos profissionais da saúde nos setores público e privado, que notificam casos suspeitos de forma pronta e imediata, e executam uma sequência de procedimentos para confirmação e identificação do agente, como a adoção das medidas imediatas de controle que cada caso assim conhecido requer, além da terapêutica que objetiva a cura do paciente e a interrupção da cadeia de transmissão do agente.

É este monitoramento que nos permitiu, no contexto epidemiológico da doença na Grande São Paulo, no estado e no país, verificar até o inverno do ano passado, a predominância de ocorrência do meningococo B e a ausência de "sinais" de emergência epidêmica do C em Campinas.

No entanto, no inverno passado esboçou-se padrão diferente para o meningococo C: ocorrência encadeada de casos por três meses consecutivos, acentuando-se a tendência de saída do nível esperado ou endêmico, e comprometimento de adultos jovens, ou seja, deslocamento da faixa etária para além dos que habitualmente são acometidos (os menores de 4 anos). É o que se verifica nos ciclos epidêmicos de determinados sorogrupos em diversas localidades e diferentes momentos, em vários locais do planeta onde se consegue diagnosticar e identificar a doença e o seu agente.

A vacina antimeningocócica C utilizada protege os maiores de 2 anos contra a doença por este sorogrupo por um tempo em torno de 2 anos. Por isso não está indicada na rotina do Programa Nacional de Imunizações mas sim nos momentos em que se verifica o risco de ascenção epidêmica, devendo ser aplicada em estratégia de campanha que atinja a população alvo em curto e delimitado espaço de tempo, justificados os custos frente aos benefícios previstos.

Também não está indicada para as situações de surtos causados pelo meningococo B, porque, diferentemente do que ocorre para o A e o C, entre outros, não se dispõe de vacina comprovadamente eficaz contra ele, como demonstraram os estudos levados a efeito após a utilização desta vacina em nosso meio (Grande São Paulo, 1990), sendo hoje objeto de trabalho em vários centros de pesquisa a descoberta de uma boa vacina contra o meningococo B.

Para as situações endêmicas ou de surtos de doença meningocócica causadas pelo meningococo B, assim como para toda e qualquer suspeita de doença meningocócica, estão indicadas as medidas habituais, ou seja, suspeita e dignóstico precoces, notificação imediata no momento da suspeita, colheita de material para análise no Instituto Adolfo Lutz, tratamento prontamente instituído e quimioprofilaxia corretamente indicada para casos e comunicantes.

Qualquer município que deseje bem conduzir o controle da doença meningocócica, antes de mais nada, deve manter um bom sistema de vigilância epidemiológica, de tal forma que se conheça o agente circulante com razoável precisão, e se adote prontamente as medidas individuais ou coletivas de controle adequadas ao momento epidemiológico em cada lugar.

Em Campinas o serviço de notificação e orientação epidemiológica funciona ininterruptamente para doença meningocócica e outras doenças de notificação compulsória no telefone (19) 7802-6900.

Observação: A Doença Meningocócica tem uma dinâmica epidemiológica variável; para atualização deste texto para Campinas consultar a Vigilância à Saúde na página da Secretaria Municipal de Saúde