Resíduos, Comportamento e Preservação Sócio-Ambiental

Artigo originalmente publicado no Correio Popular em 09 de agosto de 1995, com o título "Preservação Ambiental".
 

A sociedade humana produz diversos resíduos e em escala crescente, que estão indo para as águas, pelo solo, pelos ares e para o espaço. Configura-se problema a cada dia mais preocupante, porque o equacionamento das soluções não acompanha o ritmo da produção.

Alguns são considerados perigosos. Fezes, por exemplo, apesar de não assumidas na prática das políticas de saneamento em extensas regiões terrestres, têm periculosidade porque continuam sendo causas de epidemias pela forma como são dispostas. Resíduos letais: inúmeros tipos são hoje oferecidos em diversas formas às populações, em variadas intensidades e apresentações, que passam a sofrer suas consequências nocivas. Imputa-se responsabilidade evidente aos que diluem-se no ar, na água e nos alimentos.

Dificulta-se a solução porque parece haver em muitos ainda o desconhecimento ou a negação da intensa produção cotidiana, em outros tantos a omissão, e em alguns o grave descompromisso com a saúde humana e planetária em função de seus objetivos do maior lucro.

Aspecto interessante é que frequentemente acabam os resíduos por desaparecerem daqui, para reaparecerem acolá, de outra forma, com nova configuração a surpreender: isqueiros descartáveis, plásticos, isopores e outros materiais como petróleo aparecendo nos mares e oceanos, flutuando; países reunindo-se na adoção de medidas conjuntas para controlar os já abundantes resíduos de espetaculares artefatos espaciais, para que em algum dia não caiam em nossas cabeças; neoplasias, cânceres, anomalias...; aterros sanitários e incineradores...

Aterros sanitários são soluções-limite: "disputam" o caro e escasso espaço urbano com populações geralmente carentes de morar e viver com saúde, produzindo abundantes tóxicos intensamente deletéreos para a natureza, como resultado das transformações bio-fisico-químicas dos resíduos neles depositados, e por anos a fio. Exigem operação competente para a minimização de seus impactos nocivos, para que sejam realmente considerados controlados. São exemplos típicos de mal necessário, dado que não se viabilizam as alternativas para se deixar de enterrar toneladas e toneladas diárias de materiais com valor econômico, se fossem reciclados de forma competente.

Nesta virada de milênio verificam-se soluções que mais se apoiam em mitos, como as de queimar colchões de aidéticos na pressa de afastar o estorvo, de "controlar" o perigo que ameaça com a peste, ainda que com maior agressão às pessoas. Atitude correlata à de se incinerar todos os resíduos que saiam de um hospital, como se tudo ali fosse contaminado, se doentes e infectantes só aí existissem, como se fosse medida de alto impacto no controle das temíveis infecções hospitalares.

Equivalente ou pior: adotar-se megaincineradores como alternativa para destino final das toneladas e toneladas de lixo de grandes centros metropolitanos. Enquanto outro caríssimo mal necessário, a incineração deve ser alternativa para destino de pouquíssimos e específicos resíduos. As usinas de incineração deveriam operar com um máximo de eficiência, com monitoramento contínuo, o que raramente acontece, porque eleva-se o seu custo operacional. Sucatas tecnológicas do primeiro mundo, só poderão servir para engordar bolsos que ainda "não têm claro" que estes lucros só existem às custas de mais agressão ao ambiente, aos animais, e a nós e nossos descendentes.

De permeio às excitações de alegrias e esperanças, ou nas revoltas e invejas do cotidiano, observam-se claramente os comportamentos de poluir, depredar e agredir. Num contexto insano, seres humanos acabam tratados também como resíduos em crises sociais. A solução "cosmética" e apressada de eliminação sumária do incômodo costuma aparecer também neste caso. Mas cadáveres são resíduos em geral bem manejados pela natureza. Mais complexo para ela vem sendo a depuração das escórias do crescimento.

Os poderes públicos e o empresariado têm o dever emergencial de propor e executar planos e projetos duradouros para o equacionamento global e competente desta problemática que é cada vez mais de todo o planeta, dos nossos descendentes, dos mercados comuns, dos "trade points", etc. Conceitos atuais em qualidade fazem investir-se cada vez menos onde não há trabalhos consistentes de preservação ambiental.

A educação ambiental introduz-se com dificuldades e contradições. Vem influenciada por conteúdo e forma tal que se propõe a preparar as crianças, o que sem dúvida é muito importante. Mas acaba por não se realizar amplamente porque trabalha-se muito pouco ou diretamente a população adulta, que acaba por não dar o exemplo, e não se viabilizam as novas práticas em nossos cotidianos.

Há regiões geopolíticas que deveriam manter sua vocação para inovar e dar bons exemplos!

Mais acentuadamente agora é urgente avançar-se nos modelos de minimização da produção dos resíduos, reciclá-los ao máximo e de forma sustentada, incinerar o indispensável e de forma controlada, aterrando o mínimo que sobrar.

Observação:  O artigo merece atualização no que diz respeito aos processos de incineração de resíduos.